Tem coisas que só acontecem ao Botafogo: Porque eu amo e detesto essa frase

Tem coisas que só acontecem ao Botafogo: Porque eu amo e detesto essa frase
Facebook
Threads
WhatsApp
Twitter

Foto: Reprodução

Realmente, tem coisas que só acontecem com o Botafogo. Eu amo essa frase porque ela traz um caráter único ao glorioso alvinegro, um time com uma história incrível, rica em personagens e acontecimentos, sem falar da conexão também única com a seleção brasileira, vide o sucesso da dupla Luis Henrique e Igor Jesus vestindo a amarelinha nos últimos jogos do Brasil pelas eliminatórias da Copa.

Mas eu também odeio essa frase pelo contexto negativo, pessimista, trágico, que ela adquiriu na mídia e entre os torcedores rivais. A temporada passada contribuiu muito para isso, é verdade, mas nossa torcida jamais deveria aceitar o caráter pejorativo dessa frase. Bora viajar no tempo e entender como tudo começou.

O ano é 1957. Botafogo de Nilton Santos, Garrincha, Quarentinha e Didi, treinado por João Saldanha, disputava a final do campeonato carioca, disparado o mais importante do Brasil, contra o Fluminense de Castilho e Telê. O resultado é a maior goleada da história das finais do Cariocão, Botafogo 6 a 2 no tricolor das Laranjeiras, com 5 gols do atacante Paulinho Valentim, um deles de bicicleta, e 1 de Garrincha. No dia seguinte, o escritor Paulo Mendes Campos escreveu uma crônica para a prestigiada revista Manchete intitulada “O Botafogo e Eu” onde cunhou a célebre frase “Há coisas que só acontecem ao Botafogo”, no caso, uma goleada inesperada consagrando um atacante vindo do Galo mineiro, até então pouco valorizado pela mídia carioca.

Depois desse feito, inédito até hoje, 5 gols numa final, Paulinho Valentim foi convocado para a seleção brasileira, fazendo 5 gols em 5 jogos, e foi protagonista de uma pancadaria histórica num torneio sul-americano contra o Uruguai. Os jogadores se envolveram numa briga generalizada após o apito final. Paulinho Valentim, segundo os relatos da época, teria nocauteado 5 ou 6 uruguaios sob os olhares incrédulos do público e da imprensa presentes no estádio. O biotipo de lutador de MMA deve ter ajudado.

Curiosamente, no ano seguinte foi contratado pelo Boca onde jogou por 5 temporadas se tornando ídolo e o maior artilheiro da história do super clássico Boca X River.

Outra curiosidade: Paulinho Valentim foi o grande amor de Hilda Furacão, ela mesma, a prostituta de luxo mineira que virou tema de livro e minissérie da Globo.

E mais uma curiosidade: o par romântico de Hilda Furacão, vivida por Ana Paula Arósio na televisão, foi Rodrigo Santoro, que interpretou no cinema Heleno Freitas, outro craque atacante do Fogão, autor da sensacional frase “meu Botafogo não é lugar para covardes”. Bingo! Esse é o contexto do Botafogo que eu gosto, do Botafogo que eu conheço e que a Beth Carvalho cantou divinamente.

De fato, há coisas que só acontecem ao Botafogo, várias delas inusitadas, e posso provar:

– Ganhar de 6×0 do nosso maior rival justamente no dia do aniversário deles.

– Garrincha ser recusado no Flamengo, fazer um teste no Botafogo e meter uma bola por entre as pernas de Nilton Santos, que imediatamente exigiu sua contratação.

– A Selefogo bicampeã mundial em 62, com 5 titulares do Botafogo, Garrincha endiabrado como nunca se viu e Amarildo substituído Pelé e sendo decisivo no principal duelo, contra a Espanha.

– Didi na Copa de 58, Garrincha em 62. Ambos craques do Fogão eleitos pela Fifa como MVP dos Mundiais da Suécia e Chile.

– João Saldanha, o João Sem Medo, um jornalista botafoguense e comunista, que foi técnico uma única vez, no título carioca de 57, ser chamado para assumir o comando da seleção brasileira nas eliminatórias da Copa de 70. Terminou invicto, ganhando todos os jogos e depois bateu de frente com o presidente Medici.

– Zagallo, campeão como jogador e técnico do Brasil e do Botafogo, estreou como técnico ganhando o bicampeonato carioca de 67 e 68 e logo depois substituiu Saldanha na Copa de 70 conquistando o tri.

– Renato Sá, atuando pelo Grêmio, encerrou a jornada de 52 jogos invictos do Botafogo no Maracanã em 78, recorde brasileiro na época. Um ano depois, o Flamengo de Zico enfrentava o Botafogo para quebrar esse recorde e o mesmo Renato Sá, dessa vez pelo Fogão, fez o gol que impediu a quebra dessa marca de 52 jogos que persiste até hoje.

– Nos anos 80, Botafogo e Colorado, um time do Paraná, se enfrentavam no Maracanã pelo Brasileirão. No início do segundo tempo, com a bola rolando, o goleiro do Colorado entra em campo correndo desesperado. O jogo tinha se reiniciado sem a sua presença, por conta de um desarranjo intestinal.

– Em 97, Botafogo, já classificado para as finais do Carioca, enfrentou o Flamengo num jogo que só interessava ao rival, que se vencesse, iria pra final contra o mesmo Botafogo. O técnico Joel Santana do alvinegro escalou um time todo de reservas, incluindo alguns juvenis. O Botafogo venceu com um gol do meia Renato, ex-América e eliminou o Flamengo.

– Josimar, um mediano lateral do Botafogo, é convocado às pressas para substituir Leandro, na véspera da Copa de 86. No terceiro jogo, Telê o escala como titular, ele faz um golaço, no jogo seguinte outro golaço, e é eleito o melhor lateral da Copa.

– O título de 89, encerrando um jejum de 21 anos sem ser campeão. Ganhamos do Flamengo no dia 21 de junho, fazia 21 graus no Maracanã, o gol saiu no vigésimo-primeiro cruzamento, feito pelo camisa 14, Mazolinha, para o camisa 7, Maurício.

– Loco Abreu, campeão carioca e ídolo do Fogão, fez o gol do título numa cavadinha de pênalti contra o mesmo Flamengo que havia vencido o Botafogo nas finais dos 3 anos anteriores. Naquele mesmo ano de 2010, Loco repetiu a cavadinha na Copa do Mundo da África do Sul, classificando o Uruguai para a semifinal.

A lista é grande, lógico que tem episódios de derrotas inacreditáveis como na temporada passada, gols nos acréscimos, mas nossa história, a história do Botafogo de Futebol é Regatas, é muito maior. É gloriosa, e segue sendo escrita sempre com fortes emoções… tua estrela solitária te conduz…

MANDOU BEM

Novamente Artur Jorge, na coletiva após o empate com o Criciúma, ao deixar claro: não há time nesse momento, melhor do que o Botafogo e os números comprovam.

SURREAL PERDE

Tomar aquele gol nos acréscimos, logo após o Tiquinho abrir o placar aos 45 minutos da etapa final já seria dose. Mas ver o goleiro dos caras fazer uma defesa absurda e ter o gol do Barbosa anulado na sequência é um roteiro com requintes máximos de sofrimento.

Estamos numa semifinal de Libertadores! Preparem o coração e bora passar o trator no Penarol. Ganhamos dos caras em 93, eu estava lá, num Maraca lotado, vibrando com um time completamente desfigurado pelo desmanche no ano anterior, jogadores desconhecidos, com exceção do Sinval, e fomos campeões na raça. Sim, há coisas que só acontecem ao Botafogo.

Picture of Resenha do Pedrão
Resenha do Pedrão
Ver Artigos

Outros Posts

Continua após a publicidade..

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

InsiderBotafogo

MENU
POST RECENTE