Bar Salvador. Um lugar que se tornou quase mítico para os botafoguenses em São Paulo.
Chego para assistir o jogo decisivo das quartas de final da Libertadores. Reencontro amigos e tenho uma surpresa. O eterno Presidente Montenegro, em pessoa, está sentado na cabeceira da mesa. Começa uma viagem para o passado.
Escalações de grandes times do Glorioso são lembradas. O escrete do final da década de 50. A equipe memorável de 67. O time campeão brasileiro em 1995.
O jogo começa. E é como se o passado retornasse a campo, de forma mágica e imprevista.
O Botafogo faz um primeiro tempo de sonho. Bola de pé em pé, toques envolventes, força aliada à técnica.
É Luiz Henrique quem domina na direita? Ou talvez seja Garrincha, quem sabe o Donizete…
Alex Telles desce pela esquerda? Nele se encarnam Nilton Santos, Marinho Chagas, Valtencir.
Os jogadores se multiplicam em campo. Parecem figuras saídas de uma época de glórias.
O São Paulo está acuado. Zonzo. É um vareio de bola. Um grande espetáculo.
O gol não tarda a sair. Almada coroa uma atuação de gala com um gol que mostra técnica e oportunismo.
Uma onda de júbilo percorre a esquina do bairro de Moema. O bar inteiro se levanta. Montenegro sorri.
Há nos torcedores uma confiança que não se vê há muito tempo. O botafoguense, mais do que nunca, permanece um grande supersticioso. Mas a alegria de ter finalmente um projeto, mais do que uma equipe, contagia a todos.
Nem o estranho pênalti marcado pelo árbitro, após a chamada do VAR – o Botafogo é campeão de decisões desfavoráveis do dispositivo, seja no Brasileirão, seja na Libertadores – nem mesmo o pênalti tira o bom momento da equipe.
Lucas bate por cima. Os gritos se multiplicam no recinto. Pênalti roubado não entra
Vem o segundo tempo. O panorama muda inteiramente. O time sente a maratona de jogos. O São Paulo joga todas as fichas do ano nessa partida. Está diante de sua torcida. Pressiona. Vem para cima.
Os botafoguenses roem as unhas. Fantasmas do passado parecem voltar momentaneamente. Será que acreditamos em uma miragem?
Montenegro está calado. Todos sentem o mau momento. A situação se inverte. O São Paulo agora acua o Botafogo. Nosso time não tem saída. Os principais jogadores parecem exaustos.
Luiz Henrique é substituído. A equipe sente a pressão.
O jogo chega aos 40. A partida parece decidida, apesar do domínio tricolor. Em um contra-ataque, porém, Calleri se redime das chances perdidas na partida, vence o jejum de vários jogos sem marcar e decreta o empate de cabeça.
Uma onda de pessimismo varre o Salvador. Nosso Presidente balança a cabeça. A partida chega aos pênaltis. Uma loteria que pode encerrar uma campanha memorável.
É preciso acreditar. Lá no fundo, por baixo de toda a amargura, do sofrimento dos últimos anos, a esperança permanece, como a última brasa que arde na fogueira.
Calleri começa perdendo. Um alento que aviva a chama adormecida.
Os batedores do Botafogo convertem. No final, porém, como que para dar tintas dramáticas a um enredo digno das grandes tragédias clássicas, Vitinho isola a cobrança.
Vamos para o mano a mano. Nestor bate pelo São Paulo. John, que fez defesas importantes durante o jogo, voa no canto e impede o gol.
A classificação está nos pés de Matheus Martins
O atacante bate com calma. Com plena confiança.
O bar explode de vez. Nosso Presidente abraça desconhecidos. Somos todos botafoguenses. Somos todos irmãos.
A chama agora incendeia todo o quarteirão.
Depois de 51 anos, o Botafogo volta às semifinais da Libertadores.
E venha agora quem vier.